21 de mai. de 2010

Clínica de Psicologia

A psicologia, dentre tantas técnicas, teorias e maneiras de explicar o ser => humano, se inscreve na prática como uma forma sutil de levar alguém, que teve um primeiro desejo de dar um novo passo em sua vida, a redesenhar seu caminho, e porque não dizer, seu destino. Partem então, psicólogo e paciente, do momento em que o último pensa que parou ( e se pensa, há uma regressão, mesmo que inconsciente). Caindo num emaranhado de tramas passadas e atuais, que servirão para reascender o que há de mais belo em alguém : O sentimento de " poder" seguir em frente...






3 de mai. de 2010

Entrevista para o Midiamax

Por trás da violência policial, agressores e vítimas precisam de apoio, afirmam psicólogos
Liziane Berrocal

Quando o cansaço e o estresse culminam em agressões verbais e física? Por que isso ocorre? De que maneira a profissão policial é uma das mais prejudicadas pela cultura da violência carregada de preconceitos, falta de investimentos e pelos abusos de autoridade?


Como uma pessoa vítima de tortura pode se recuperar do trauma?


Na última semana, o Midiamax noticiou o caso de um jovem comerciante que ao tentar devolver o aparelho celular que a esposa havia achado foi confundido com bandido e por conta disso, acabou vítima de tortura. Por que a agressão não causa indignação na maioria das pessoas se a vítima for alguém em conflito com a lei?


O episódio [Leia matérias relacionadas] polêmico mostrou o sofrimento de quem é vítima de abuso de autoridade, colocou em xeque os procedimentos dos profissionais da segurança, mas, sobretudo alertou sobre o papel do Estado de ‘cuidar’ das mulheres e homens responsáveis na atuação de mediações de conflitos.


Para a psicóloga, Stela Victório Faustino, 24, especialista em ‘Gestão de pessoas’, fatores propulsores de estresse e agressividade resultam em violência ‘se atingirem pessoas pouco preparadas emocionalmente para lidar com as reais dificuldades da profissão e também que estejam sofrendo níveis altíssimos de algum fator externo que abale o equilíbrio mental, que neste caso seriam a sobrecarga de trabalho e má remuneração’.

Sobre o que essa violência pode gerar à pessoa agredida, Carlos Afonso Marcondes Medeiros, 57, psicólogo, presidente do CRP (Conselho Regional de Psicologia) e coordenador de atendimento psicossocial da Polícia Civil, é categórico ao dizer que ‘todo ser humano que passa por uma situação semelhante, traumática, pode desenvolver manifestações consideradas como pós-traumáticas e que dependendo da estrutura psíquica da pessoa pode se tornar um transtorno mental grave, especialmente se não for submetido a tratamento. O medo já pode ser uma manifestação pós-traumática’.

Eis a entrevista completa com os especialistas:

Midiamax – Noticiamos na última semana o episódio de um jovem que acabou vítima de tortura policial ao ir entregar um aparelho celular, que sua esposa havia achado. Quais são os possíveis traumas que isso pode acarretar para a vida do rapaz e também para a família dele? Como explicar o medo de autoridades?


Stela Victório Faustino - A insegurança, desconfiança e o medo destas figuras policiais e das pessoas em geral seriam as conseqüências possíveis nesta situação, em que houve uma inversão de valores, onde realizando uma ação honesta o jovem foi cruelmente repreendido, enquanto aprendemos desde a infância que ao fazermos o bem devemos ser recompensados. Isto pode trazer ao jovem e sua família dificuldades em estabelecer relações de confiança e honestidade com outras pessoas.

O medo é o resultado de uma situação frustrante, em que o jovem esperava no mínimo um agradecimento e na verdade foi punido. Então, qual a boa referência em que este jovem poderá se apoiar após este caso, para acreditar que será compreendido? O sentimento que permaneceu é o de abuso de autoridade e violência, que o deixou inseguro em novamente “denunciar”, ou seja, “falar a verdade”, “agir com honestidade”.

Carlos Afonso Marcondes Medeiros - Todo ser humano que passa por uma situação semelhante, traumática, pode desenvolver manifestações consideradas como pós-traumáticas e que dependendo da estrutura psíquica da pessoa pode se tornar um transtorno mental grave, especialmente se não for submetido a tratamento. O medo já pode ser uma manifestação pós-traumática.

Midiamax - O que pode ser feito para amenizar os traumas causados pela violência? Quais as sequelas que podem ser percebidas?

Stela Victório Faustino - Os traumas só podem ser amenizados à medida que a vítima consegue compreender os fatos e os sentimentos decorrentes, podendo exteriorizar o que restou de mágoa, dor e sofrimentos. A partir da compreensão, a vítima pode então recriar sua história, permitindo a si mesmo novas chances de passar por momentos agradáveis. As seqüelas podem ser sentimento de inferioridade, distância e frieza nos relacionamentos, tristeza profunda.

Carlos Afonso Marcondes Medeiros - As pessoas que sofreram algum tipo de violência devem procurar tratamento com profissionais da saúde mental. Em Campo Grande existe o CAPS TRAUMA que fica na Rua Sebastião Lima, 1323, no Monte Líbano.

Midiamax – Por outro lado, falando sobre o nível de estresse e sobrecarga de trabalho que faz de policiais militares pessoas violentas. É notório que há falta de contingente policial e que esses profissionais são mal remunerados. Há influência direta desses fatores nos casos de violência?

Stela Victório Faustino - Acredito que são fatores propulsores de estresse e agressividade se atingirem pessoas pouco preparadas emocionalmente para lidar com as reais dificuldades da profissão e também que estejam sofrendo níveis altíssimos de algum fator externo que abale o equilíbrio mental, que neste caso seriam a sobrecarga de trabalho e má remuneração. Mas não podemos esquecer que abuso de autoridade e violência são repertórios que podem ocorrer em decorrência dos valores e da cultura vivenciada por um certo grupo de pessoas, como no caso de uma classe profissional.

Carlos Afonso Marcondes Medeiros - A atividade policial por si só já implica em um comportamento que exige um esforço psicossocial maior do que em outras profissões e isto produz estresse. Posso falar mais sobre o que ocorre com o policial civil, em virtude da minha atuação específica, isto é, notamos que um certo número destes policiais começam a apresentar manifestações ocasionadas pelo estresse a partir do 20º ano de trabalho. São as depressões, os transtornos pós-traumáticos, as fobias, irritabilidade, etc. A Policia Civil, através da nossa Coordenadoria tem acompanhado a maioria dos casos, e quando nos deparamos com eles, imediatamente sugerimos uma licença médica e, na maioria, a perícia médica determina o recolhimento da arma.

Os fatores estressantes interferem na vida de qualquer pessoa, e quando se trata de policial, uma profissão de risco, é preciso que se tomem atitudes de cautela para evitar danos ao profissional, a instituição ou a terceiros.


Midiamax - O policial apontado como agressor já possui certa idade (42 anos) e não é novato na polícia. Em tese ele deveria conhecer quais os procedimentos policiais a serem adotados. Como se explica tal violência?

Stela Victório Faustino - Voltando a falar sobre os valores, cultura, pressão por fatores externos e equilíbrio emocional o fato ocorrido pode ser explicado como um acontecimento decorrente de uma destas causas ou da junção delas. Não podemos saber exatamente o porquê desta ação violenta, pois isso seria possível com uma análise mais aprofundada do agressor.

Carlos Afonso Marcondes Medeiros - Não posso emitir opinião sobre o comportamento de uma pessoa que não conheço e principalmente que não avaliei, sob o aspecto psicológico.

Midiamax – Neste episódio noticiado, a vítima declarou que um dos agressores seria irmão do dono do celular. Como isso essa ‘influência’ pode resultar em violência? Arquivo pessoal/CRP

Stela Victório Faustino - Não só é possível como a sociedade vivência isso dia-a-dia. Há sempre alguém se beneficiando de um “nome”, um “cargo”, uma “posição hierárquica” para afirmar seu poder em detrimento do sofrimento de outros.

Carlos Afonso Marcondes Medeiros- Prejudicado. Sem estar julgando a atitude deste ou daquele policial, mas sim de modo geral. Todos sabemos que a função do policial é de servir e proteger e é isto que a sociedade espera. E é evidente que em toda instituição pública ou privada existem os bons e os maus, felizmente a maioria é do bem e cumpre suas funções adequadamente.

(Colaborou: Jacqueline Lopes)