20 de dez. de 2012

Satisfação em te encontrar



Acho muito bonito quando escuto alguém, de maneira formal e até um pouco tradicional, dizer: É uma satisfação lhe encontrar!

Uma pessoa muito próxima a mim, e que fala bem pouco, diz isso.

Quando vejo esta cena me dá uma sensação boa. Parece que há um encontro ali e quem diz isso fica tão feliz que transporta em palavra.

Eu fico feliz de ver os encontros. Embora hajam tantos desencontros pela vida... como sempre repete minha mãe ( A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida-Vinícius de Moraes).

Não é fácil ouvir um desencontro na clínica. É difícil... o desencontro é sempre uma perda, uma falta... se revela na briga dos casais, na distância entre amigos e até na tão temida morte. Esta sim é um desencontro fundamental.

Por isso quando ouço alguém comemorar um encontro me dá este sentimento tão bom. E me parece justamente que é a isso que as pessoas tanto procuram. Um bom encontro, um encontro agradável... aquela sensação de ter aproveitado bem seu tempo, com alguém que gosta. Encontrar alguém que te olhe sinceramente e diga "Que satisfação lhe encontrar", "Estou aqui", "Posso lhe dar atenção neste momento", "Estou te ouvindo". Mas isso realmente não se pode pedir.

O ser humano é muito livre para poder dar ao outro justamente o que ele quer, na hora que deseja. É preciso esperar, ter calma, deixar passar o tempo. Até que o outro possa lhe encontrar também. Pode não ser aquela pessoa que você espera que lhe encontre, mas pode ser outro. E um outro encontro também pode ser tão bom quanto, não?!

 Este é o segredo em conseguir lidar com as perdas?!

Opa, alguém acabou de vir ao meu encontro. Uma amiga com uma mensagem de bons desejos. É minha oportunidade de tentar encontrá-la mais tarde, ela é uma ótima companhia. Mas... só se ela também puder. Senão preciso esperar.

É isso não é?! É preciso esperar... mesmo porque qualquer companhia se tem por aí, a todo momento. Nos bares, nas festas... muita gente tentando se encontrar.

Ontem encontrei uma boa amiga, que mora tão longe. Foi tão bom ter este encontro com ela. Eu estava cansada ontem, precisava comprar presentes de natal, organizar minha casa, fazer fichamentos, dissertação de mestrado...enfim... eu queria mesmo era encontrá-la.

Mas, voltando à satisfação. Não é essa sensação de ter encontrado um bom objeto, que não é um objeto real, uma coisa, um iphone ( como brincávamos ontem comendo sushi, que os pais hoje em dia dão todos ais que existem aos filhos, iphone, ipad... por aí vai, nem sei escrever essas coisas rs). Não são estes objetos que irão satisfazer, eles na verdade irão insatisfazer. Fazer querer mais.

Um bom objeto neste caso, é o outro, uma outra pessoa que também possa lhe encontrar naquele momento de sua vida.  Uma pessoa que esteja cá tão tranquila com suas coisas, que pode lhe olhar com calma, lhe ouvir, lhe contar ...  Só quem está bem assim pode dizer: "É uma satisfação lhe encontrar".

E não há choro, dor, doença, angústia, iphone ou facebook que faça isso mudar. O outro só pode se satisfazer com sua presença no momento que ele puder. É preciso buscar outras fontes de satisfação mais duráveis. Um novo conhecimento, um instrumento, uma habilidade, um esporte, um novo trabalho... algo que fique dentro de você, que faça parte de sua vida. Quem sabe assim, com um vazio menor dentro de si, possa deixar que outro lhe encontre e lhe dê um pouquinho de satisfação. Um pouquinho só, pois muito é impossível ou insuportável. Está aí a barra, a interdição a que o sujeito precisa lidar. O sujeito não pode nada demais:
Demais: excessivo
Demais: indiferente ( por demais)

Há uma costura nisso tudo que é possível.

Mas neste significado é possível:

Dê mais: significado de dar mais, fazer mais por algo. O que também se faz em análise.




VII
Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.
Manoel de Barros )




6 de dez. de 2012

Como eu digo ao outro o que penso?

A cada novo texto eu fico mais encabulada de estar escrevendo coisas tão misturadas. Uma coisa que alguém disse, algo que ouvi na clínica e pronto, vem uma idéia toda misturada. 

Nos treinamentos da área de RH nós trabalhamos com a comunicação. Dizemos às pessoas que o tom que se diz e a escolha das palavras influencia em como o outro vai entender aquilo. É isso mesmo, o sentido é este. Mas utilizamos isso de forma muito prática, racional. E as pessoas não absorvem isso assim, de cara, é algo muito mais complexo. Precisa de tempo. Por isso não faço treinamentos somente, é preciso mostrar com várias atividades isso. Estou falando disso nas empresas. Por isso fazemos atividades de endomarketing, comemorações nas datas festivas, integração entre os setores...etc. Tudo para também se ensinar a comunicar-se com o outro, de forma não agressiva, mas sim assertiva. Isso é um trabalho de anos nas empresas...

Bom, mas queria dizer mesmo sobre a forma como dizemos as coisas...na empresa levamos anos para tratar isso, na clínica também... muitos anos...

Hoje vi uma crítica a Oscar Niemeyer. No dia de sua morte.

?????????

Só posso dizer: Opiniões sim, muitas e cada um com a que quiser. 
Mas que isso? 
Que crueldade é essa? Ou, que ser primitivo é esse? Que não pode pensar no outro, num momento tão difícil como é a morte? 

Ahhh... se ele ouvisse o que ouço na clínica...

Se ele soubesse do sofrimento humano...

Diria as coisas de forma mais amena, mais oportuna... o sofrimento humano pode ser também prevenido... não é necessário incentivá-lo com palavras duras...

Como eu digo ao outro o que penso? 




4 de dez. de 2012

Tente fazer algo

Curioso como as palavras tem tantos sentidos

Me pego pensando nesta= Tentar.
Me pego tentando entender esta e como as pessoas a utilizam.

Uma amiga me deu um exemplo engraçado esta semana. Estava me explicando sobre uma conversa com uma outra pessoa, em que tentavam entender algo sobre uma relação conjugal. Numa parte ela deu este exemplo: TENTE me dar este chinelo! E sua amiga a ajudava a entender que algumas vezes, dependendo do momento de uma relação, ou de uma vida, não se pode apenas TENTAR. É preciso fazer, ser certeiro, afirmativo, imperativo. Como se dissesse: Quem TENTA me dar um chinelo nunca consegue.

Achei simples e interessante! Uma boa analogia pra mim que as vezes preciso de criatividade para lidar com as resistências no consultório. E nem sempre consigo... as pessoas são muito, MUITO resistentes. Bom, mas este é o assunto que estou escrevendo na dissertação do mestrado, resistências. Cortes as vezes bruscos que pacientes fazem antes de deixar que algo faça sentido... isso ainda me angustia muito. Por isso estudo a transferência...

Agora, TENTAR também tem um outro lado, um outro significado. Quando dizemos a um paciente: TENTE, FAÇA MAIS, VÁ UM POUCO MAIS... é uma outra maneira de TENTAR.
É um TENTAR alcançar.

Este sentido eu gosto! Nossa, como ele é útil!

O desejo precisa de tentativas para se encontrar... é preciso TENTAR...quantas vezes preciso... uns precisam menos, outros mais... mas eu vejo como uma ótima forma de sair da reclamação, da dor, do sofrimento, do medo.... TENTANDO.

Tem pessoas que precisam de um: Se continuar só TENTANDO nunca vai conseguir chegar lá!
Para outros é necessário: Você está quase lá... continue, TENTE mais... Saia de trás da cortina, entre em cena... apareça, faça!

Em Lacan podemos entender a primeira frase para o obsessivo, ele TENTA alcançar o desejo e não o pega, escapa de suas mãos, é impossível. E a segunda frase para o sujeito histérico, que alcança seu desejo, mas precisa caminhar mais e mais para entendê-lo e apropriar-se dele, é insatisfeito.

É tão bom ver alguém TENTAR... quem tenta não está no nada... no vazio...