Acho muito bonito quando escuto alguém, de maneira formal e até um pouco tradicional, dizer: É uma satisfação lhe encontrar!
Uma pessoa muito próxima a mim, e que fala bem pouco, diz isso.
Quando vejo esta cena me dá uma sensação boa. Parece que há um encontro ali e quem diz isso fica tão feliz que transporta em palavra.
Eu fico feliz de ver os encontros. Embora hajam tantos desencontros pela vida... como sempre repete minha mãe ( A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida-Vinícius de Moraes).
Não é fácil ouvir um desencontro na clínica. É difícil... o desencontro é sempre uma perda, uma falta... se revela na briga dos casais, na distância entre amigos e até na tão temida morte. Esta sim é um desencontro fundamental.
Por isso quando ouço alguém comemorar um encontro me dá este sentimento tão bom. E me parece justamente que é a isso que as pessoas tanto procuram. Um bom encontro, um encontro agradável... aquela sensação de ter aproveitado bem seu tempo, com alguém que gosta. Encontrar alguém que te olhe sinceramente e diga "Que satisfação lhe encontrar", "Estou aqui", "Posso lhe dar atenção neste momento", "Estou te ouvindo". Mas isso realmente não se pode pedir.
O ser humano é muito livre para poder dar ao outro justamente o que ele quer, na hora que deseja. É preciso esperar, ter calma, deixar passar o tempo. Até que o outro possa lhe encontrar também. Pode não ser aquela pessoa que você espera que lhe encontre, mas pode ser outro. E um outro encontro também pode ser tão bom quanto, não?!
Este é o segredo em conseguir lidar com as perdas?!
Opa, alguém acabou de vir ao meu encontro. Uma amiga com uma mensagem de bons desejos. É minha oportunidade de tentar encontrá-la mais tarde, ela é uma ótima companhia. Mas... só se ela também puder. Senão preciso esperar.
É isso não é?! É preciso esperar... mesmo porque qualquer companhia se tem por aí, a todo momento. Nos bares, nas festas... muita gente tentando se encontrar.
Ontem encontrei uma boa amiga, que mora tão longe. Foi tão bom ter este encontro com ela. Eu estava cansada ontem, precisava comprar presentes de natal, organizar minha casa, fazer fichamentos, dissertação de mestrado...enfim... eu queria mesmo era encontrá-la.
Mas, voltando à satisfação. Não é essa sensação de ter encontrado um bom objeto, que não é um objeto real, uma coisa, um iphone ( como brincávamos ontem comendo sushi, que os pais hoje em dia dão todos ais que existem aos filhos, iphone, ipad... por aí vai, nem sei escrever essas coisas rs). Não são estes objetos que irão satisfazer, eles na verdade irão insatisfazer. Fazer querer mais.
Um bom objeto neste caso, é o outro, uma outra pessoa que também possa lhe encontrar naquele momento de sua vida. Uma pessoa que esteja cá tão tranquila com suas coisas, que pode lhe olhar com calma, lhe ouvir, lhe contar ... Só quem está bem assim pode dizer: "É uma satisfação lhe encontrar".
E não há choro, dor, doença, angústia, iphone ou facebook que faça isso mudar. O outro só pode se satisfazer com sua presença no momento que ele puder. É preciso buscar outras fontes de satisfação mais duráveis. Um novo conhecimento, um instrumento, uma habilidade, um esporte, um novo trabalho... algo que fique dentro de você, que faça parte de sua vida. Quem sabe assim, com um vazio menor dentro de si, possa deixar que outro lhe encontre e lhe dê um pouquinho de satisfação. Um pouquinho só, pois muito é impossível ou insuportável. Está aí a barra, a interdição a que o sujeito precisa lidar. O sujeito não pode nada demais:
Demais: excessivo
Demais: indiferente ( por demais)
Há uma costura nisso tudo que é possível.
Mas neste significado é possível:
Dê mais: significado de dar mais, fazer mais por algo. O que também se faz em análise.
VII
Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.
( Manoel de Barros )